sexta-feira, 7 de agosto de 2009


Os acertos de Calvino (1)

Calvino, como todos os homens, acertou e errou. É claro que não errou tanto quanto boa parte dos calvinistas, que desvirtuam a sua teologia. Mas, felizmente, o festejado Calvino também acertou, e muito. E, por isso, resolvi iniciar esta série, pela qual farei menção de algumas frases desse grande reformador (sem ironia), acompanhadas de meus comentários.

“O acesso à salvação a ninguém é vetado, por mais graves e ultrajantes que sejam seus pecados” (As Pastorais [1 Timóteo 1.15], p.43). Interessante... Durante muito tempo eu cheguei a pensar que esse teólogo, à semelhança dos predestinalistas, defendia uma expiação restrita e uma eleição arbitrária!

É claro que, ao estudarmos o todo da obra de Calvino, vemos que ele se contradiz quanto ao modus operandi da salvação, infelizmente... Mas o mencionado pensamento, pelo menos, está em pleno acordo com as Escrituras! Jesus morreu mesmo para salvar toda a humanidade (Jo 3.16; Hb 2.9; 1 Tm 2.6; 1 Jo 2.2). Apesar disso, nem todos são salvos, não porque Deus não queira salvá-los, e sim porque muitos têm rejeitado essa “tão grande salvação” (Hb 2.3).

“O arrependimento não está no poder do homem” (Exposição de Hebreus [Hb 6.6], p.155). Calvino tem razão. O ser humano não tem condição de arrepender-se por si mesmo, pois está morto em pecado (Ef 2.1-3). Por isso, é Deus quem dá o arrependimento (At 11.18). O que significa isso? Significa que o Senhor dotou o homem de intelecto, sentimento e vontade, faculdades pelas quais este é capacitado por Deus a arrepender-se.

Quando o tal pecador ouve a Palavra de Deus, o Espírito Santo entra em ação para convencê-lo (Rm 10.17; Jo 16.8-11). Se, pela fé, mediante o livre-arbítrio, o ser humano atender à ordenança para a salvação (At 16.31), confessando Jesus como Senhor, será salvo por sua graça (Rm 10.9,10; Ef 2.8,9). Caso contrário, permanece condenado (Jo 3.16).

“... que esta seja a nossa regra sacra: não procurar saber nada mais senão o que a Escritura ensina. Onde o Senhor fecha seus próprios lábios, que nós igualmente impeçamos nossas mentes de avançar sequer um passo a mais” (Exposição de Romanos [Rm 9.14], p.329). Oh, como seria bom se os predestinalistas atentassem para esse sábio e verdadeiro conselho de Calvino, deixando de dar asas à imaginação e à perigosa lógica humana! Mas, infelizmente, eles têm confundido Escrituras com Institutas...

“Deus jamais exclui ou priva alguém de sua graça, exceto aquele que se torna totalmente réprobo. Para tal pessoa nada é deixado” (Exposição de Hebreus [Hb 6.4], p.151). Calvino aqui, ao comentar acerca dos cristãos decaídos — pessoas que são iluminadas, provam o dom celestial, tornam-se participantes do Espírito Santo, bem como provam a boa palavra de Deus e as virtudes do século futuro, desviam-se, perdendo a salvação (Hb 6.4-6; cf. 2 Pe 2.1,20-22; Hb 3.12,13) —, contraria o bordão predestinalista: “Uma vez salvo, salvo para sempre”.

“Devemos viver em paz, caso desejemos que o espírito de bondade permaneça entre nós” (Exposição de Efésios [Ef 4.1-4], p.109). Seria bom que os calvinistas observassem esse conselho de Calvino. Afinal, eu não conheço nenhum dos seguidores do aludido reformador que, ao ser contrariado, haja pacificamente. Ao contrário, muitos demonstram estar mesmo em guerra contra quem pensa diferente.

Um dos principais divertimentos dos predestinalistas é se juntarem para malhar um “Judas” que pensa diferente... Inserem o nome do contradizente (acompanhado ou não de uma foto) em uma comunidade do Orkut ou em um blog, ambos exclusivos para calvinistas, e malham alegremente o pobre “arminiano” que “não tem capacidade” para entender as sublimes doutrinas reformadas... Nobre isso, não?

Bem, tomando emprestada uma frase que os predestinalistas gostam de dirigir aos arminianos (depois de citarem algumas frases calvinistas de Armínio), concluo este artigo dizendo: “Calvinistas, ouçam Calvino!” Esse grande reformador (sem ironia), a despeito de ter cometido alguns erros quanto às doutrinas da salvação, realmente tem muito a nos ensinar!

Com amor,

Ciro Sanches Zibordi

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